Gravidez na adolescência em Portugal e no Brasil
O teste deu positivo.
É uma realidade que soa bem e que se apresenta, feliz, na vida de qualquer mulher. É o momento chave.
O momento no qual, por magia, se confirma a certeza de que o papel no mundo é cumprido.
Vai ser mãe.
Esta é uma história feliz. Mas não a única. Falar em gravidez é, também, falar de outras formas de vida, de outras realidades, de outras circunstâncias.
E, se formos totalmente honestos com a realidade do mundo, saberemos dizer que nem sempre aquele sinal positivo, saltando do teste de farmácia ou do exame de sangue, é recebido com entusiasmo e alegria.
Maria já é maior. Agora. E é mãe. Mas, quando engravidou, tinha 16 anos. Conta-nos que adiou o teste por medo do resultado. E que recebeu o resultado com “lágrimas e palavrões”.
Ser mãe adolescente não fazia parte dos seus planos, onde se incluía um curso universitário – que acabou por não concluir – e uma vida emocional e profissional mais estáveis.
Mas Maria é apenas uma das mulheres que conta esta história que, com as suas nuances de diferença, se vai alastrando e repetindo.
A gravidez na adolescência é uma realidade que tem vindo a tornar-se cada vez mais preocupante e que entra pelas nossas casas, seja pelas histórias de amigos e conhecidos ou pela persistência dos meios de comunicação tradicionais e dos meios tecnológicos.
A gravidez precoce – nome que pode ser, também, dado à gravidez adolescente – é uma realidade universal.
E é por isso que, hoje, lançaremos sobre ela o olhar, afunilando o tema para conhecermos melhor a realidade vivida em Portugal e no Brasil.
Acompanhe-nos nesta viagem à gravidez na adolescência e fique a saber tudo sobre a temática: o que é, como afeta as jovens, como afeta os seus parceiros, quais as suas consequências e de que forma podem os pais destes(as) adolescentes lidar com o problema.
1. Gravidez precoce: o que é?
Podemos considerar que gravidez precoce é toda a gravidez que ocorra numa mulher com idade inferior a 18 anos.
O mais comum, neste tipo de gravidez, é que a mesma não seja desejada e não tenha sido planeada pelo casal, sendo aquilo a que, vulgarmente, se chama “acidente”.
Embora o senso comum nos leve a pensar nesta temática como uma problemática feminina, é muito importante recordar que esta é uma situação que afeta também o sexo masculino, já que este é parte integrante da conceção.
Se, por um lado, uma adolescente viverá o drama físico da gravidez indesejada, carregando em si o fruto do relacionamento, o pai da criança viverá a mudança da vida, aliada às novas responsabilidades trazidas por esta situação inesperada e nova.
A gravidez precoce pode ter diversas razões.
Embora se considere que, na atualidade, a informação difundida e os meios disponíveis seriam suficientes para evitar que tal aconteça, a realidade é que o meio político, social e económico exerce novas formas de pressão.
A promoção de um estilo de vida mais liberal, aliado a um consumo massivo de produtos televisivos que se focam na irreverência adolescente poderá ser uma das razões que levam esta nova geração – no geral mais informada do que as anteriores – a banalizar questões como o relacionamento e o sexo, o que pode levar a práticas desprotegidas e perigosas para os jovens.
Algumas delas terminam, portanto, com a consequência na qual agora nos focamos: uma gravidez indesejada durante a adolescência.
De salientar, ainda, que a adolescência se trata de uma fase da vida na qual as hormonas se encontram em particular revoluteio e que tal acontece numa fase na qual os jovens têm em mente uma diversidade de temáticas que lhe exigem atenção e responsabilidade.
O sucesso escolar, os exames e vestibulares, a escolha de uma via profissional: as maiores decisões da vida de uma pessoa ocorrem nesta fase.
A par com isto, o desejo de namorar e a busca pela liberdade podem levar as(os) jovens a procurar, num parceiro, um novo tipo de apoio.
A forma como se dá esta ligação é, também, muitas vezes responsável pela gravidez.

2. Problemas e riscos da gravidez precoce
No que respeita à gravidez em si, o primeiro problema a apontar será, claro, a falta de preparação dos jovens para assumirem a responsabilidade materna e paterna.
Ainda sem uma estabilidade emocional ou de vida que lhes permita a constituição de uma família, a notícia da gravidez afeta estes jovens de formas inimagináveis, construindo uma rota que pode – embora não seja obrigatório que assim seja – derrotar as suas expetativas e desejos de sucesso futuro.
Fisicamente, a mãe adolescente corre alguns riscos, nomeadamente se, por desinformação ou medo, demorar a buscar o aconselhamento médico.
Este adiamento da procura pelos cuidados clínicos pode levar a situações diversas: desde o aborto espontâneo até ao próprio risco da vida da mãe (caso exista uma tentativa, por parte da jovem, de procurar alternativas menos seguras para conseguir abortar).
Além disto, na adolescência existem, durante a gestação, maiores riscos de anemia, de hipertensão arterial e de descontrolo emocional.
Poderá ainda haver maiores riscos durante um parto normal, sendo possível que exista a necessidade de recorrer a uma cesariana.
Para o bebé, é comum que o peso no momento do nascimento seja inferior.
Depois do parto, uma gravidez precoce trará, ainda, outro tipo de consequências para os pais adolescentes e o bebé.
Para os pais, é comum que a instabilidade financeira e as dificuldades funcionem como um motor para o abandono escolar e a procura precoce de fontes de rendimento, sendo ainda comum uma alteração da vida social anteriormente mantida e surgindo, por vezes, situações clínicas como a depressão e a ansiedade.
Já o bebé poderá (embora, obviamente, tal não aconteça sempre) crescer com maiores dificuldades de integração no meio escolar, por sentir défices de cuidado atenção e apoio por parte dos pais – em geral pouco preparados para assumir o papel de responsabilidade devido à tenra idade, falta de planeamento e frágeis possessões económicas.
Todos estes riscos levam alguns dos jovens que se encontram nesta situação a procurar outro tipo de soluções como o aborto ou a cedência do bebé para adoção.
2.1. Gravidez na adolescência – Gravidez precoce e aborto
Em Portugal, o aborto é uma das hipóteses para as adolescentes que engravidam. Esta é uma opção difícil de tomar e que deve ser pensada, sempre, em conjunto com o pai da criança e os pais de ambos os envolvidos.
Partindo para esta opção, os jovens devem procurar formas seguras e legais de o fazer, recorrendo aos serviços estatais que ofereçam este tipo de apoio ou a clínicas privadas reconhecidas.
Já no Brasil, esta é uma prática não é legal e continua a ser criminalizada. Este país considera o aborto um crime contra a vida humana (situação prevista no código penal brasileiro que vigora desde 1984).
Assim, no Brasil, esta é uma prática que pode apenas ser realizada, de forma legal, em três circunstâncias: quando a gestante foi vítima de violação, quando está em risco a vida da mãe ou em alguns casos de deficiência do feto.
Todas as outras situações são, por norma, punidas com pena de prisão que pode ir de 1 a 4 anos.
Isto inclui, portanto, as situações de gravidez na adolescência. Explica-se também, desta forma, que os índices de gravidez precoce no Brasil sejam superiores aos portugueses.
2.2. Gravidez na adolescência – Gravidez precoce e adoção
Dar o bebé para adoção será uma hipótese para estas gestantes adolescentes.
Nestes casos, é necessário que ambas as partes (mãe e pai do bebé) estejam de acordo sobre esta opção, sendo necessária a assinatura de ambos para que o processo decorra com normalidade.
As opções de adoção são, muitas vezes, exploradas nos casos em que os jovens não se sentem preparados para assumir o papel de pais e é uma alternativa ao aborto que, como vimos, não é permitido no Brasil.
Neste caso, a adolescente deve procurar orientação junto de um médico e preparar-se para viver a gestação durante as suas 40 semanas, tomando, durante as mesmas, toda a responsabilidade pela correta formação e cuidado do ser que se gera dentro de si.
Embora possa parecer uma forma de se “descomprometer” da maternidade, esta não é uma opção fácil, uma vez que é natural que, ao longo dos meses, a jovem crie uma ligação emocional com o bebé.
Recomenda.se, por isso mesmo, o recurso a um psicólogo ou terapeuta, que possa ajudar a superar a sensação de perda inerente a esta escolha.
3. Gravidez na adolescência: alguns dados estatísticos
Para que tenhamos noção da frequência desta situação em Portugal e no Brasil, olharemos alguns dados estatísticos.
Em Portugal, segundo dados de 2016, dão à luz, por dia, uma média de 12 jovens menores de 18 anos, número que se apresenta inferior aos de 2009, em parte devido à acentuada divulgação sobre sexualidade promovida por planos de educação sexual nas escolas e pelo apoio dos media.
A considerar também, para a redução dos números de parto adolescente, a descriminalização do aborto (em 2007), que abriu a estas jovens a opção de por um termo voluntário à gravidez indesejada.
No Brasil, segundo dados recentes, cerca de 18,3% dos bebés que nascem no país são filhos de mães adolescentes, o que corresponde a um universo de 2,8% de jovens entre os 12 e os 17 anos que, entre essas faixas etárias, se tornam mães.
O mesmo estudo indica que 12% das mulheres entre os 15 e 19 anos, no Brasil, têm pelo menos 1 filho.
4. O lado “menos negro” da gravidez precoce
Apesar de, como vimos, a gravidez na adolescência ser uma temática complicada, a verdade é que, mesmo perante uma gestação indesejada, nem tudo tem de ser mau!
Em alguns casos, existem fatores que contribuem para uma adaptação mais simples das(os) jovens a esta situação.
Entre os mais comuns encontra-se a personalidade destes adolescentes; a facilidade de encontrar mecanismos de adaptação; o desejo de maternidade/paternidade; a integração em ambientes sociais e familiares estáveis; o apoio por parte da família e dos pares e o suporte institucional.
5. Sistema de apoio à gravidez na adolescência
Claro que, no momento da confirmação da gravidez precoce, não é apenas a jovem e o seu companheiro a “sofrer” com a situação.
Os pais são, muitas vezes, apanhados de surpresa e é natural que sintam um misto de sensações negativas, onde se inclui a preocupação, a desilusão ou a angústia.
Esta primeira reação é natural… mas é importante que os pais recordem que esta não será uma situação fácil para os jovens e que, provavelmente, terá sido necessária muita coragem para os adolescentes confiarem a questão e procurarem ajuda.
É importante que os pais aceitem a notícia com celeridade, procurando agir sobre a mesma com a calma e maturidade que, provavelmente, faltará aos seus filhos.
Uma boa forma de começar esta interação será falar com os jovens sobre as alternativas e perceber qual é a vontade destes (seguir com a gravidez, interromper a gestação ou dar o bebé para adoção).
A partir daqui, os pais deverão apoiar os adolescentes na sua escolha, ajudando-os a viverem da melhor forma a adaptação à nova etapa das suas vidas.
Em vez de se focar no negativo, lembre-se de que existem casos de sucesso, mesmo para as mães e pais adolescentes.
Aconselhe e incentive os jovens a lutarem para transformarem este lapso numa outra forma de vivência, que possa ser-lhes mais favorável.
Acredite: embora seja muito difícil, ficará mais fácil com o seu apoio.
A gravidez precoce é uma realidade do nosso mundo e, provavelmente, continuarão a ser muitos os bebés que contam a história de como vieram ao mundo sem que os pais os tivessem planeado ou estivessem preparados para os receber.
Em alguns casos, este acontecimento será muito traumático para os jovens que, de um segundo para o outro, vêm a vida mudar completamente.
Por sorte, Maria não foi um desses casos. Hoje como 32 anos, já tem duas filhas, ambas do mesmo pai, com quem acabou por casar aos 24. Diz que não planeou a primeira filha e que não ficou feliz no momento da notícia.
Mas acrescenta que teve todo o apoio dos pais e dos sogros, que o companheiro nunca lhe faltou e que, embora não tenha feito a universidade, a vida profissional lhe foi grata.
O seu caso – talvez excepcional – é uma tragédia de final feliz.
Ainda assim, ela admite que gostaria de ter estado mais preparada para receber o seu primeiro rebento.
Viveu ou conhece quem tenha vivido uma história como a da Maria? Conhece outros casos de gravidez na adolescência?
Conte-nos tudo!